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Mesmo com toda a tensão, o Congresso prosseguiu e manifestações pela paz tornaram-se cada vez mais freqüentes.
O último dia do evento foi reservado para a cerimônia de encerramento que contou com a presença da princesa Lalla Hasna (irmã do rei Mohamed VI), do vice primeiro ministro escocês, Ewan Robson, do representante da ONU, Kunio Waki, entre outras autoridades. O dia foi também reservado para a votação da Declaração de Casablanca, o que acabou gerando controvérsias entre os participantes pela forma como foi conduzida: “Não houve democracia, de maneira alguma. Em primeiro lugar porque retiraram à força da sala de votação o delegado de Israel, em segundo porque, como a declaração pôde ser aceita se apenas 26, dos mais de 100 países votaram a favor?”, questionou Anna Kaxira, delegada grega. “O processo de votação foi confuso, desorganizado e injusto. Além disso, foi um absurdo a manipulação que Marrocos fez para que a declaração fosse aceita”, completou Tamoy Singh, da Jamaica.
Muitos jovens ficaram decepcionados com o fato de que 14 dias de congresso foram inúteis para que um documento legítimo e democrático, que representasse a juventude mundial, fosse aprovado e comprometeram-se a fazer uma aliança pós-congresso para revisão da Declaração e apresentação de um novo documento à ONU.
Apesar de tudo, os jovens disseram que a experiência de participar de um evento internacional, tendo de representar seu país da melhor maneira, enfrentar conflitos e ver de perto choques cultuais e a beleza da diversidade foi uma experiência inesquecível: “Foi uma oportunidade fantástica! Nunca vou me esquecer de tudo o que vivi e aprendi no congresso. Acredito que sou mais consciente agora, parece que minha mente abriu”, disse Samira Hammane, delegada da França. “Fizemos contatos para toda a vida e se temos mesmo a intenção de mudar o mundo temos que ter consciência que vamos enfrentar problemas muito maiores do que enfrentamos aqui.”, completou João Felipe Scarpelini, delegado brasileiro.
Delegação Brasileira
O Brasil marcou presença no Congresso pela alegria, engajamento e responsabilidade de sua delegação. Inicialmente formada por 10 jovens: Isis Lima Soares, Mariana Manfredi Magalhães e Talita Montiel D’Oliveira Castro, de São Paulo (SP); Luciana Gomes Alves, Luísa Gouvêa do Prado e João Felipe Scarpelini, de Santos (SP); Helena Lemos Gomes, de Guaxupé (MG); Camila Argolo Godinho, de Salvador (BA), Mariana Lima, de Brasília (DF) e Fábio Anderson Pena, de Santarém (PA), a delegação só ficou completa após ser integrada, em Marrocos, pelas brasileiras Paula Simas Magalhães e Nina Best, que estudam no Canadá: “Já conhecíamos a Paula através de contatos por e-mail e pelo processo de formação da delegação brasileira. Mas a Nina para nós foi uma ótima surpresa”, disse Luísa do Prado.
Curiosidades...
·O Brasil trabalhou, juntamente com os demais países da América Latina, na preparação de um documento alternativo à Declaração de Casablanca em que ficassem claros os pontos de vista e as necessidades dos países latinos. Foram noites sem dormir, em reuniões, e incontáveis xícaras de chá de hortelã...
·Bossa nova, samba e o Hino Nacional brasileiro marcaram presença na cerimônia cultural de abertura do evento. A própria delegação se encarregou do repertório e da performance.
·Alguns jovens marroquinos ofereciam, a todo o momento, centenas de Dirhams (moeda local) em troca dos materiais do stand brasileiro (banners, máscaras, roupas típicas, mapas...) e tentavam comprar a qualquer preço o pin com a bandeira brasileira que cada delegado carregava no crachá.
·Pelé, Romário e Ronaldinho são realmente populares em qualquer parte do mundo!
·A frase: “sou brasileiro” abre portas no Marrocos! Principalmente na hora de barganhar nas medinas (também chamadas “cidade velha” – são a parte antiga e histórica das cidades, onde ficam os mercados populares). Todos da delegação que usaram essa tática conseguiram preços bem acessíveis!
·A delegação brasileira junto com os demais latino-americanos organizaram um manifesto contra a marca Nike, presente nos cordões que seguravam os crachás dos participantes. A idéia foi convidar todos os jovens a substituir o cordão Nike por fitinhas do Nosso Senhor do Bonfim, levadas da Bahia ou fitas celeste-e-branca, levadas pelos argentinos. Mais do que aprovada a idéia, as fitinhas latinas viraram uma febre no complexo!
Contradições
Um dos temas principais do Congresso era discutir a questão da sustentabilidade do planeta, ou seja, como continuar promovendo o crescimento econômico sem acabar com os recursos naturais. Apesar disso, o evento foi uma experiência nada sustentável.
Os motivos levantados por várias delegações, entre elas a brasileira, foram, principalmente, o desperdício de comida e a falta de consciência ambiental. Cada participante consumia em média cinco garrafas plásticas de água por dia. Contando com a participação de mil jovens durante 14 dias contabilizamos 70 mil garrafas plásticas utilizadas, sem qualquer sistema de coleta seletiva disponível! Isso sem contar a quantidade de latinhas de refrigerante também jogadas no lixo comum...
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Luciana Arfelli
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