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Marrocos hospeda II Congresso Mundial da Juventude Printable Version PRINTABLE VERSION
by Luciana Arfelli, Brazil Feb 3, 2004
Child & Youth Rights , Peace & Conflict , Culture   Opinions

  

expectativas dos jovens de hoje”.

Para tentar mudar essa situação (ou pelo menos amenizar seus efeitos), várias organizações e grupos de voluntários surgiram no Marrocos nos últimos anos. Uma delas é o Fòrum des Jeunes Marocais - ou Fórum dos Jovens Marroquinos -, que juntamente com a ONG britânica Peace Child Internacional, financiamento do Rei de Marrocos e apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) hospedaram o II Congresso Mundial da Juventude.

Antes de começar a falar sobre o evento, vale ressaltar que a juventude marroquina, apesar de estar vivenciando um turbilhão de transformações culturais e sociais ainda mantém uma visão conservadora no que diz respeito a alguns temas como o homossexualismo (tratado como um tabu que não deve nem ser mencionado) e o sexo antes do casamento.

Entender a maneira como os jovens e o povo marroquino em geral encaram determinados valores ajuda a entender um pouco melhor o que foi o Congresso da Juventude e todas as discussões, festas, conflitos e emoções que aconteceram por lá.

Tolerância, solidariedade e sustentabilidade em foco

O II Congresso Mundial de Jovens aconteceu entre os dias 16 e 28 de agosto nas cidades de Bouznika e Casablanca, e teve como tema “Promovendo a tolerância, a solidariedade e a liderança juvenil em ações sustentáveis”. O evento visou à inclusão da juventude mundial nas discussões para a consolidação das oito Metas do Milênio, aprovadas em Assembléia Geral da ONU em novembro de 2000 (veja quadro 1, no final do texto).

O Congresso foi a segunda parte de uma seqüência de encontros que teve início em 1999, no Havaí e que terá suas próximas edições em 2005, na Escócia; 2007, na Índia e 2009, de volta ao Havaí.

Os mais de mil jovens que estiveram reunidos no complexo esportivo e cultural do Ministério do Esporte e Juventude de Marrocos, em Bouznika (a cerca de 80km da capital marroquina, Rabat) mal imaginavam que estavam sendo o centro das atenções de todo um país (pelo menos não até perceberem a constante presença da imprensa marroquina os acompanhando diariamente aonde quer que fossem...).

Pela primeira vez na história, o reino se abria para receber tantos estrangeiros de uma só vez. “A escolha de Marrocos como sede de um dos mais importantes fóruns de jovens do mundo garante uma excelente oportunidade para diálogo e integração, mostrando que pode haver coexistência pacífica, tolerante e harmônica entre culturas tão distintas, porém unidas por um mesmo ideal”, disse o rei Mohamed VI, em carta enviada aos participantes.

A organização do evento demonstrou uma enorme preocupação com a segurança — os participantes só podiam sair do complexo de Bouznika escoltados!(veja quadro 2, no final do texto) —, alimentação, comunicação e transporte. Era visível que o governo marroquino se esforçou para mostrar ao mundo que o país podia ser tão “ocidental” quanto quisesse e que abrigar jovens cidadãos do mundo não era tarefa das mais difíceis.

Além dos dias passados no complexo, os jovens foram divididos em grupos e, durante cinco dias, tiveram a oportunidade de visitar outras cidades e regiões do país, trabalhar e dar sua contribuição para projetos sociais que estão sendo desenvolvidos nas localidades visitadas, ou simplesmente conhecer de perto as diferentes realidades em que vive o povo marroquino e fazer uma espécie de “turismo social”.

Choque de culturas - Mas nem tudo são flores, e a diversidade por vezes acaba gerando conflitos. As diferenças culturais começaram a vir à tona quando tiveram início os primeiros debates para a preparação da Declaração de Casablanca – documento oficial do evento contendo compromissos, missões e expectativas da juventude mundial sobre as metas do milênio e os temas debatidos no congresso.

Os latino-americanos apresentaram uma proposta de emenda em que incluíam a liberdade de orientação sexual no preâmbulo do documento. Foi o suficiente para que jovens fundamentalistas islâmicos enfurecidos protestassem contra a “imoralidade dos infiéis ocidentais”. A partir desse momento, a relação entre alguns participantes muçulmanos e não-muçulmanos ficou abalada até o final do Congresso.

Outro foco de conflito aconteceu entre as delegações de Israel e Palestina, que começaram a demonstrar o ódio e rancor que carregam por gerações. A até então “aldeia global” acabou se transformando em uma Faixa de Gaza em pequena escala.

Em um dos momentos mais tensos, quando a violência física estava prestes a ser usada, Ziv Weibel, delegado israelense, gritava tentando amenizar a situação: “Eu não sou o meu país, eu não sou o meu governo, não tenho nada a ver com Ariel Sharon! O que vocês querem de mim? Estou aqui lutando pela paz, como vocês. Por que me agridem?”. Enquanto isso, palestinos agregavam participantes marroquinos, argelinos e egípcios em um grande coro: “Arábia, Arábia”!







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Luciana Arfelli


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