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Inicialmente, para apresentar os argumentos centrais da "Teoria de Gênero em Relações Internacionais", é preciso conceitualizar o que vem a ser gênero.
Gênero, diferente de sexo, são as construções sociais, morais, valores, atribuídos ao sexo feminino e ao masculino. Vai além de diferenças biológicas. Essas construções vêm carregadas de conceitos simbólicos, o que levaram à dominação masculina no campo de relações internacionais.
O feminismo nas relações internacionais ganhou espaço com algumas mudanças na política internacional. Uma delas foi a permissão de homossexuais de integrarem as forças armadas nos EUA. Esse reconhecimento de diferentes escolhas sexuais abriu espaço para o feminismo. Outro ponto importante foi a violência sexual contra as mulheres como tática de guerra, o que levantou a importância do papel da mulher durante períodos de conflito.
Do ponto de vista realista, onde as questões mais importantes da política internacional é a segurança, as "high politiks", e o poder militar é visto como um meio masculino, as mulheres têm pouco espaço na esfera política pública. A mulher só tem um papel importante na esfera privada, doméstica.
Essa perspectiva dominadora masculina é altamente questionada pelas mulheres, que reivindicam uma maior inclusão na esfera política.
A teoria feminista é mais vista como um movimento do que como uma teoria, por mais que existam feministas realistas, marxistas, construtivistas... Esse movimento feminista, visa a igualdade de gênero por meio de mudanças no discurso machista, no discurso socialmente construído de que o gênero mulher não está inserido na diplomacia.
Muitas teorias de RI se dizem neutras à questão de gênero, mas na verdade elas são cegas. Levando em consideração esses conceitos em torno do gênero feminino, é importante notar, inclusive, o número de mulheres que compõe o meio acadêmico de Relações Internacionais. Existe um monopólio de conhecimento predominantemente masculino e ocidental.
Esse monopólio do discurso, seguindo como base o texto de Michel Foucault “A ordem do discurso”, pode ser analisado desde o ponto de vista dominante x dominados. Neste sentido, os homens são os dominantes, que proferem o conhecimento e a “verdade absoluta”. As mulheres, por sua vez, são as dominadas, as que não têm poder para proferir verdades que poderão ser legitimadas. Elas são excluídas da verdade que lhes são imposta.
Partindo disso, é possível concluir que a alienação das mulheres e a construção social em conjunto com a verdade sobre elas que lhes foram atribuídas (de forma aleatória) pelo gênero e o sexo masculino, explica o porquê do surgimento tardio, ou melhor, o reconhecimento tardio das mulheres em relações internacionais e sua disciplina. O sexo masculino foi por muito tempo o dono da verdade e construíram o gênero masculino (e o feminino) de acordo com suas necessidades e suas concepções de verdade.
Por isso, várias autoras propuseram a desconstrução desses discursos de forma a condicionar o gênero no estudo e prática das relações internacionais. Jean Elshtain, em oposição ao realismo e à “masculinidade militar”, propôs a inclusão das mulheres neste âmbito. Ela inclusive citou em seu livro “Women and War”, a existência de mulheres soldados na guerra e a habilidade da mulher nas táticas de guerra por terem uma visão mais detalhada e não tão ampla da aplicação destas táticas. A mulher por desempenhar um papel ativo no âmbito doméstico é mais organizada e tem espírito de liderança forte. O importante aqui, não é a comparação com os homens, mas sim o fato de que as mulheres também possuem habilidades úteis na guerra.
Já Cynthia Enloe, foca o papel da mulher na economia. Ela revela em seu livro “Bananas, bases and Beaches”, o papel crucial das mulheres na política internacional contemporânea. Para Enloe, a estrutura feminina em todas suas esferas – familiar, beleza, casamento – está, na realidade, engendrada na política global. A mulher desempenha um papel fundamental na economia e tem um papel importantíssimo no surgimento e reconhecimento do setor informal de trabalho. Enloe cita que a questão da autodeterminação da mulher é um ponto crucial para o funcionamento do sistema mundial, que segundo ela “é muito mais frágil e aberto a mudanças” do que pensamos.
É importante citar também, o trabalho da Feminista Na Tickner. Ela se concentra mais na elaboração de uma política de identidade feminina. Ela pretende com isso a desconstrução do discurso simbólico e uma nova visão para o gênero feminino. Tickner critica fortemente a corrente teórica principal nas RI, em especial o realista Robert Keohane, por sua falha em reconhecer o potencial da teoria feminista.
Todos esses questionamentos estão ligados à investigação de Foucault à medida que essa mudança reivindicada em relação ao sexo masculino e a realidade por ele construída sobre o gênero feminino trará mais fluidez ao discurso, despindo a verdade desses valores e morais. Por isso, o discurso do gênero é essencialmente um discurso simbólico.
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Luciana Brasil
"Decifra-me ou te devoro"
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