by Efraim Batista de Souza Neto
Published on: Sep 10, 2008
Topic:
Type: Opinions

11 de Setembro: Dia do Cerrado – Dia do Esquecimento

Por: Efraim Neto

A segunda maior formação vegetal do Brasil é uma dos ecossistemas mais esquecido pelo Governo Federal e pela população brasileira. Mesmo abrangendo 10 Estados, uma área equivalente a 2 milhões de km2 e apresentando duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso, o Cerrado é vítima de grande ocupações agrícolas e de uma grande devastação ambiental. Com solo de savana tropical, deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, entre arbustos esparsos e gramíneas e o cerradão, um tipo denso de vegetação, de formação florestal.

Banhada por três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins-Araguaia, São Francisco e Prata) e possuindo uma grande variabilidade biológica, a região é historicamente lembrada pela grilagem de terra e por mega projetos insustentáveis do Governo Federal, entre eles a Transposição do Rio São Francisco. Mesmo sendo o único dos biomas brasileiros que faz limite com todos os outros e, por isso, mantém o que os pesquisadores chamam, de “áreas de tensão ecológica”, o Cerrado possui uma elevada complexidade devido a sua megabiodiversidade. Nessa região estão os conhecimentos culturais de camponeses, quilombolas e povos indígenas, o que já faz do Cerrado um importante instrumento de preservação dos costumes culturais. Estes povos e suas culturas rendem importantes contribuições para a sustentabilidade da região.

No Congresso Nacional, é extremamente visível o descanso com a Região. Lembramos que na região estão algumas das áreas mais pobres do país! Será por isso? Enquanto a bandeira da Amazônia é erguida por vários parlamentares, a bandeira do Cerrado é engavetada bem longe dos olhos da população e do ecossistema que clamam por ajuda. Diferente da situação da Amazônia, poucas ONG’s de grande porte lutam e são escutadas pelas questões referentes ao Cerrado.

Os projetos de lei e manifestações em favor da preservação do Cerrado são, de longe, muito escassos. Mesmo quando manifestações em prol de uma legislação favorável ao Cerrado foram realizadas na II Conferência Nacional do Meio Ambiente, este ecossistema continuou esquecido pelo poder público federal. As poucas áreas de proteção permanente existente, muitas vezes são desrespeitadas e a fiscalização do IBAMA e de órgãos competentes é praticamente NULA.

A partir da construção de Brasília e com a ocupação da região Centro-Oeste, quando ocorreu um rápido deslocamento da fronteira agrícola, baseado em desmatamentos, queimadas, usos de fertilizantes químicos e agrotóxicos, 67% das áreas do Cerrado foram modificadas, por voçorocas, assoreamento e envenenamento dos ecossistemas. Muitas áreas da região são desmatadas para a criação de gado e estabelecimento de monoculturas, como a soja e o algodão. Infelizmente, muitos dos fazendeiros ou pessoas ligadas a estes, são os gestores das políticas públicas que abrigam o Cerrado.

Nos anos 70, o Sr. Mario Guimarães Ferri, grande pesquisador brasileiro, já apontava para a importância de se preservar, conservar e fazer uso racional do Cerrado. Dizia que essas ações eram de fundamental importância para a preservação, inclusive, da Amazônia. Hoje, mesmo quando as elites políticas reconhecem que de fato o Brasil é importante ecologicamente para o planeta e que isso nos coloca sob diversos holofotes, o segundo maior ecossistema do país é literalmente esquecido e devastado.

Mesmo depois de tudo isso, parece que defender o cerrado não dá status a ninguém. Enquanto outras temáticas dão visibilidade aos olhares nacionais e internacionais, o Cerrado continua sendo lembrando apenas por ser uma savana seca de árvores tortas e ocupadas em sua maioria por pobres. Dentro de 30 anos, talvez a nossa conversa possa ser outra! E infelizmente o nosso Cerrado será apenas pó de serra.


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