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O Rato
Até três horas da madrugada é o horário máximo que eu consigo dormir e como de costume, mesmo que eu queira me espalhar na cama por mais algumas horas,uma coisa quase que religiosa me faz abandonar o aconchego dos meus lençóis e me põem de pé, que é o vício danado do tabagismo.
A intensa vontade de fumar me obriga a procurar por alguma coisa doce para adoçar a boca, pois o amargo das substâncias encontradas no cigarro, aliadas ao álcool ingeridos na madrugada fazem o meu fígado entrar em desespero e a abstinência me leva novamente ao vício.
Primeiro caminho alguns passos na escuridão e busco a cozinha, onde sei que todos os aparatos para fazer um bom café me esperam . Acendo a luz e vou a busca do canecão e o encho de água. No aguardo em que a água se aqueça, coloco o pó no filtro e fico divagando sobre o seu sabor, e a minha boca se enche de água, como a de um viciado qualquer.
Em um desse dias quando acendia a luz da cozinha, um vulto preto correu junto à base da pia. Em primeiro momento, os meus olhos ainda não acostumados à claridade me deram uma forma embaciada do espectro, mas em instante, a consciência de que um rato me visitava naquela madrugada era real. Armei-me com uma vassoura e procurei pelo visitante. Por mais que eu arrastasse os poucos móveis existentes, ele se embrenhou em alguns deles e desapareceu.
Para mim, o assassinato daquele infeliz passou a ser o meu ponto de honra. Os dias que se sucederam fora de intensa perseguição. Queria vê-lo pessoalmente e avaliar o seu tamanho.
Vinha na escuridão e silenciosamente acendia a luz correndo os meus olhos para o ambiente. Por várias vezes nos defrontamos na madrugada e tanto ele como eu passamos a tomar atitudes diferentes. Ele já não se escondia com tanta rapidez e eu por minha vez comecei a gostar da surpresa que ele me causava. Esse ato era como um vício para nós dois.
Minha esposa por sua vez me deu o ultimato, matar o infeliz a todo custo.
Obrigando-me a comprar algumas ratoeiras, ela fez com que eu as armasse ao longo de toda a cozinha. Durante várias noites eu ouvia que algumas delas se desarmavam, mas para a minha alegria, em nenhuma delas se encontrava o cadáver. Aquela atitude do rato era bem parecida com a minha, pois a cada cigarro que eu fumava, era como se uma ratoeira desarmasse ao longo da minha vida, e eu por sorte, continuava vivo.
Não sei porque motivo, eu torcia para que o rato fosse suficientemente inteligente para salvar a sua própria vida.
Dias se passavam e a minha torcida pela vida dele se intensificava. Já não acordava tão cedo e nem buscava mais pelo café para adoçar o meu vicio de fumar . Na verdade, o que eu não queria era vê-lo morto. Quantas e quantas vezes nossos olhos se cruzaram em meio ao medo um do outro e depois nos entrevíamos com ternura. O cigarro é também assim. No começo temos medo e depois a doçura do seu prazer nos faz esquecer do perigo
O rato na confiança de não ser morto se tornou indolente em se esconder e eu um passivo da fumaça do cigarro não acreditava que o vicio me matava.
Certa manhã, quando acordei em horário normal, como todo mundo acorda, adentrei a cozinha e conferindo as ratoeiras, vi que meu amigo mais uma vez não estava em nenhuma delas, e eu continuava vivo para poder vê-lo. Mas, após conferir nas minúcias, meu suspiro de alivio pairou em uma pequena porção de veneno ao pé da geladeira, que minha mulher a colocara durante a noite, alegando a minha incapacidade para matar o infeliz. Meu amigo desta vez havia sido derrotado pela fome, e ,inocentemente havia comido aquela porção avermelhada e apetitosa.
Onde estaria ele agora e que suplicio estaria passando nas dores da morte?
Seria assim o meu fim , por saber que cada dia me envenenava um pouco?
Jogando meu cigarro com violência no chão, passei a perceber que eu também era mais um rato no meu vicio. As ratoeiras desta vida se espalham por todos os lugares, basta apenas saber: se você quer parar de arriscar, ou esperar pelo dia em que o veneno letal acabe de vez com o seu falso prazer,jogando-lhe numa vala qualquer ou lhe desterrando numa cama de hospital, desgraçadamente, mutilado.
Se eu que torcia para que o rato fosse suficientemente inteligente para salvar a sua vida, porque eu que tenho a inteligência , não havia pensado em salvar a minha?
Oitenta mil pessoas morrem todos os anos como um rato, vítima do tabagismo e, nenhum rato recebe por ano, a piedade de um homem.
Agora, a escolha é sua... Seu rato! – disse a mim mesmo.
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Writer Profile
Tony Pent
Escritor e jornalista
Livros
O diario de um terrorista, a visão de um terrorista, diante do conflito arabes e judeus
Estigma da loucura,
De volta para o inferno
Marysia e Henryk - saga polonesa
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Comments
O rato Tony Pent | Aug 31st, 2008
Realmente, o autor foi fundo nesta história, mande-a para uma amigo de que vc gosta
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