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Seguindo o que determina muitos pensadores do jornalismo, isso na questão política – aqui não indissociável das questões ambientais – os meios de comunicação são compreendidos com um instrumento de interesse político, e nós jornalistas ambientais temos também os nossos interesses! Na visão da esquerda, os veículos são tidos muitas vezes como instrumentos que ajudam à direita; já para a direita, são compreendidos como instrumentos que põem em causa o capitalismo.
Independentemente de ser direita ou esquerda, defendemos a posição de que as notícias articulam em prol dos diversos interesses existentes na sociedade, principalmente, no nosso caso, as questões que entrelaçam o meio ambiente. E mesmo que não aceitemos essa condição, seja de direita ou esquerda, projetamos nossas visões de mundo a compreensão da sociedade na construção de nossas matérias. Será que estamos pautando realmente o que a sociedade quer ler? Talvez estejamos repetindo diversas vozes que muitas vezes não faz sentindo para os nossos “clientes”. Talvez o jornalismo ambiental deva aprender com isso, para que possa realmente assumir um papel de maior interferência na sociedade: “O que é consumível o sujeito compra, do que é público o sujeito participa”. Para mim o jornalismo ambiental é público, e cadê a participação do povo?
Numa análise desse comportamento, Robert Hockett sublinha que alguns dos pressupostos desta versão são: a) os jornalistas detêm o controle pessoal sobre os produtos jornalísticos; b) os jornalistas estão dispostos a injetar as suas preferências políticas no conteúdo noticioso; c) os jornalistas enquanto indivíduos têm as valores políticos correntes e, a longo prazo, estáveis. O mais engraçado é que muitas vezes esses valores são substancialmente diferentes dos da população em geral. Será que podemos realmente pautar as notícias? Ou será que devemos compreender primeiro o que a população realmente o que a população quer saber. Não retiro aqui a importância, por exemplo, da mídia ter pauta as mudanças climáticas; mas ela já havia feito isso várias outras vezes e somente após o filem do político americano, as mudanças climáticas realmente ganharam força. Estou enganado?
Voltando para a dicotomia política que cerca a produção de nossas informações. Para a esquerda, o papel dos jornalistas é pouco relevante, mesmo quase invisível, reduzidos à função de executores a serviços do capitalismo – muitos de nós temos sido isso sim, reprodutores de um discurso sem valia e que atende aos interesses do empresariado; quando mais convenientes como as elites – de que lado estamos?
Todos nós sofremos como o papel determinante dos proprietários de comunicação e a sua estreita ligação com as classes capitalistas. A existência de acordos econômicos entre os empresários e as grandes personalidades que agridem o meio ambiente complica ainda mais o trabalho realizado por todos nós. E não foi apenas uma vez que lemos aqui na rede que um de nossos amigos foram censurados pelo que escreveram.
Pegando esse trecho de outra mensagem que circulou na rede: “Porque essa é a minha convicção. Se todos os jornalistas atuassem em ONGs ambientalistas, quem faria o papel de emplacar pautas interessantes, fomentar discussões e avivar pelo menos uma pequena parte da opinião pública?”. Eu pergunto agora, depois do que escrevei: Será que somos nós mesmo que emplacamos pautas interessantes? Ou será que essas pautas surgem a partir da pressão da sociedade sobre o Estado?
Assumo sim que os meios de comunicação podem ser veículos de debates, e hoje a temática que mais está em pauta é a questão ambiental. Creio que podemos permitir uma grande interatividade com os receptores das informações. Também reconheço que os meios de comunicação ambiental, muitas vezes, funcionam como agentes de vigilância e controle dos poderes, nomeadamente dos poderes políticos e econômicos.
Um jornalista ambiental que possui afinidades com as regras sociais vigentes poderá tender a avaliar as situações e a sua própria atividade como algo sem muita funcionabilidade, e cair nas brechas que abem espaço para a fabricação de informações padronizadas e a selecionar o valor noticioso tendo em vista sempre o mesmo tipo de acontecimento (Será que isso que tem acontecido com a temática do “Aquecimento Global”?
Para falar dos jornalistas “neutros”, vou utilizar um trecho do livro de Pedro Souza (2000). “Os jornalistas ‘neutros’ olhavam para as suas obrigações profissionais como resumindo-se a recolher, processar e difundir rapidamente informação para uma audiência mais vasta possível, evitando histórias cujo conteúdo não estivesse suficientemente verificado; os ‘participantes’ viam-se como ‘cães de guarda’, paladinos da investigação jornalística, em ordem a controlar os poderes, pelo que investigam as informações governamentais, providenciavam análises para problemas complexos, discutiam as políticas e desenvolviam interesses intelectuais e culturais”.
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Efraim Neto
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