by Efraim Batista de Souza Neto
Published on: Feb 22, 2008
Topic:
Type: Interviews

Em recente visita à Fundação Oswaldo Cruz na Bahia (Fiocruz-BA), o doutor David Watkins, da Wisconsin National Primate Research Center (WNPRC), disse estar entre aqueles que ficaram decepcionados com a recente fracassada tentativa de produção de uma vacina contra HIV/AIDS. O motivo é que a vacina V520 não impedia a infecção ou reduzia a carga viral de HIV. Os resultados negativos, após dez anos de estudos e participação de cerca de três mil voluntários, abalaram a confiança de vários pesquisadores, e reforçaram a suspeita de outros que já desconfiavam que a produção de uma vacina eficaz demoraria a ser conseguida. A vacina experimental contra a AIDS da Merck Sharp & Dohme teve os seus testes clínicos suspensos no mês setembro.

Watkins acredita que a falha deveu-se ao uso do Adenovirus 5, que também induziu respostas imunológicas antiadenovirus, tornando insuficiente a resposta contra o HIV. “Precisamos pensar numa maneira completamente diferente. Precisamos voltar para a pesquisa básica para entender mais o HIV e tentar outros tipos de vacina”, aponta o pesquisador, que destaca a necessidade de pensar uma maneira diferente para os estudos relativos a vacina contra AIDS.

Em sua avaliação, agora a espera por uma vacina deverá durar, pelo menos, dez anos. Entretanto, Watkins defende que a busca pela vacina continue, visto que, mais de 11 mil pessoas são infectadas todos os dias, principalmente em países pobres. Dados da UN AIDS / WHO AIDS Epidemic Update, de dezembro de 2006, demonstram que deste total cerca de 1,5 mil são crianças abaixo de 15 anos. Como já foi noticiado, o índice de contaminação sobe entre os jovens de 15 a 24 anos, já ultrapassam os 40% em todo o mundo.

O desafio entretanto é grande. Por quase duas décadas, pesquisadores do mundo interior travam uma batalha diária para conseguirem uma resposta positiva em relação à vacina. O problema é que, segundo Watkins, o HIV provoca uma infecção aguda entre a quarta e oitava semana, depois permanece por meses e até anos em estado de latência, destruindo silenciosamente o sistema imunológico e podendo ser transmitido a outras pessoas. Além disso, há uma enorme variabilidade do vírus; ele se integra para sempre no DNA do hospedeiro. Ou seja, curso clínico longo, dificuldade de identificar o período exato do início da infecção e uma enorme diversidade da seqüência do HIV são fatores que retardam seu estudo.

Nos últimos 20 anos, por exemplo, o sucesso das vacinas para combater o HIV foi mínimo. Watkins considera que o conhecimento sobre a doença e as respostas do sistema imune ao vírus ainda é insuficiente. Some-se a isso a dificuldade de avaliar e testar as vacinas, que não se configuram em prioridade para a indústria farmacêutica. O quadro oferecido pelo pesquisador, em relação aos 26 ensaios clínicos, é o seguinte: 19 estão em estudos iniciais; 2 na fase intermediária; 3 em estudos intermediários e de eficácia; 1 em estudo de eficácia (fase III) e 1 falhou. “A maioria dos cientistas acredita que os estudos em fase 3, realizados na Tailândia, também irão falhar”, lamenta Watkins.

Enquanto a vacina não vem, a prevenção parece ser o único caminho. Diferente do virologista Robert Gallo, que em recente entrevista à Folha de São Paulo, disse que o Brasil não era referência mundial na luta contra a AIDS, Watkins elogia o programa brasileiro de combate à doença. “Nós precisamos fazer a prevenção, usar camisinha. Aprimorar as drogas que existem atualmente. Considero o governo do Brasil como o melhor exemplo, porque previne o vírus na população”, falou Watkins, ao destacar a importância do papel do país na prevenção ao combate do HIV.

« return.