by Efraim Batista de Souza Neto
Published on: Feb 12, 2008
Topic:
Type: Opinions

Vivemos um momento muito interessante dessa nossa odisséia terrestre. As diversas formas de fanatismos estão cada vez mais próximas de todas as nossas relações sociais, afetivas e mecânicas. Tivemos, nessa grande concepção de construção científica, a formulação de uma visão extremamente fechada do que venha ser ciência, tecnologia, entre outros processos existentes dentro de nossas relações sociais, sejam elas de poder ou não.

Segundo Berkeley, o mundo em si não existe, mas é criado por nosso pensamento. Ou seja, as idéias criam a realidade, precedendo-a, portanto. E essa é a realidade da construção de nossa comunicação. Vivemos em um mundo que crê apenas naquilo que o nosso pensamento epistemológico construiu através da comprovação científica. A construção dessa sociedade, que chamamos de “moderna”, está baseada no velho e antigo egocentrismo humano. Sentimento cada vez mais consolidados nos diversos fanatismos - mecanização do processo de consolidação cultural.

Segundo Politzer (1961), o idealismo, assim como a religião, provém da ignorância dos homens a respeito do mundo. E diz que como conseqüências disso, os homens buscam explicar tudo pela voz de Deus. Na realidade de nossa constituição social, hoje essa afirmação possui a mesma equivalência para a crença na ciência. Daí crenças, como as dos antigos gregos, sobre a existência de quatro elementos, ou seja, água, terra, fogo e ar, e a propriedade que têm de não se decomporem.

Uma das coisas que mais chama a atenção nessa nossa sociedade de hoje, é a quebra daquilo que Aristóteles havia sinalizado acerca da questão da dependência existente entre os fenômenos do universo, os ciclos evolutivos presentes na história e o fato de tudo possuir causas e conseqüências. Nossa sociedade perdeu a grande capacidade de compreender as questões da nossa história. Perdemos a grande capacidade de nos relacionarmos com o meio que nos cerca, e por conseqüência nos colocamos no centro de todas as cadeias existentes nos universo.

Os nossos estudos passaram, após as revoluções científicas dos séculos XVII e XVIII, a ser totalmente lineares e como conseqüência disso, construímos uma sociedade que se comporta de maneira muito homogênea. E daí fomos educados a exercer um maior controle sobre as emoções e nossa memória. Vivemos na chamada “ciência dura”, com um forte desenvolvimento da corrida tecnológica. A mesma tecnologia que o homem insiste em separar entre “avançada” e a “atrasada” – infelizmente o homem insiste em esquecer que a tecnologia é intrínseca a própria história de nossa construção cultural e social.

As relações humanas constituídas são baseadas em valores existentes em um mundo em que os meios dominam os fins. Em uma ciência baseada nas velhas e novas revoluções científicas que são sustentadas pela concorrência e pelo despertar para o lucro capitalista. Aquela compleição firmada pela nossa constituição familiar já está totalmente modificada, como conseqüência deste fato os valores e os sentimentos já estão perdidos e distorcidos. Creio que este seja o grande motivo para que a nossa sociedade tenha se tornado cada vez mais violenta. Afinal, destruímos a nossa constituição familiar, religiosa e cultural.

Segundo Jean Baudrillard, para Marx, “muito filósofos se contentam em interpretar o mundo e de que agora para frente, a questão se trata em trabalhar para que hoje, não baste transformar o mundo. Isso já aconteceu de alguma maneira. O que é preciso, urgentemente, é interpretar essa transformação – para que o mundo não se transforme sem nós, e para que não se transforme em um mundo sem nós”. Talvez o grande problema de nossa sociedade seja por que não sabemos propriamente onde estamos e para onde vamos, porque o movimento vertiginoso da revolução técnica escapa de nosso entendimento. Há o império da técnica, a essência contemporânea da ciência.

A nossa ciência impôs a idéia de limite, a mesma idéia que imperou durante toda a nossa história – idéia que é grega passa a ser entendida como barreira, como privação, e essa idéia de infinito e de deslimite está na base de nossa mudança de pensamento. Com a consolidação dos limites a nossa sociedade sente-se reprimida para pensar de forma holística e participar da teia da vida. Entretanto, mecanismos sociais, baseados principalmente no capitalismo, valorizam a cultura do excesso. A pior conseqüência dessa essência é a fuga da natureza das coisas.

O grande ponto de referência desta nossa ciência “moderna”, talvez seja porque ela não pensa. Ela faz. E a nossa constituição educacional ficou “capenga” porque a filosofia pensa o pensamento, mas foi excluída da base escolar; a ciência deveria pensar a ciência, como afirma a filósofa Olgária Matos. Vivemos a interferência da “ilusão da individualidade” e reproduzimos, na dependência corporativa, as ações sócio-culturais de uma falsa sociedade globalizada.

Ciência e técnica faziam parte das produções culturais, espirituais, da sociedade. Hoje a ciência e a técnica são força produtiva. Estão diretamente vinculadas ao aumento do capital, não tem mais autonômica nenhuma. Essa estruturação social nos tornou seres carentes! O conhecimento multidisciplinar preenche o vazio. O capitalismo produz a carência, ele não quer preencher uma necessidade, quer criar necessidades ao infinito. Neste processo a comunicação é o grande vetor de transmissão massiva de uma doença comum à nossa sociedade: a ilusão e o consumo. O nosso tempo é a subjetividade.

O que considero muito engraçado na construção de nossa sociedade científica é que a promessa exige longo prazo. Entretanto, a ciência “moderna” faz promessas imediatistas, construindo em nossas mente um tempo no futuro perdido. Falta a compreensão de que o futuro é uma moeda de troca – exemplo, o nosso comportamento com o meio ambiente, a preservação, o cuidado com o meio que nos cerca, é uma troca importante para a manutenção da nossa odisséia terrestre.

Enfim, o tempo compreendido é o tempo que é imposto como a forma por excelência da vida. É o consumo de bens materiais, sem nenhum ideal de espírito. É a técnica e a ciência se desenvolve sem saber para aonde vão. Todas essas considerações atingem a nossa noção de liberdade e responsabilidade dentro da sociedade.


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